segunda-feira, 9 de março de 2009

CINEMA É A MAIOR DIVERSÃO (DEPOIS DO ENTERRO DA SOGRA, É CLARO!

Estou terminando minha tese de doutorado intitulada "Podem Gatos-Angorás, Chinchilas, Coelhinhos e Poodles Brancos Substituir o Papel Higiênico? - Um Estudo Prático de Caso" e o Parque Aquático no qual escrevo esse importante trabalho é longe pra cacete da minha casa. Assim, chego em residência sempre cansado. Pela 6ª vez nessa semana (hoje é segunda), os gaiatos dos meus filhos tacaram superbonder dentro do buraco da fechadura para me impedir de entrar em meu ordeiro lar. Então lá fui eu, de novo, tentar puxar um ronco no cinema e tentar comprar um revólver ou coisa parecida.

Queria assistir a um filme intelectual de vanguarda do circuito alternativo chamado "Alucinações Sexuais de um Macaco", mas devido a essa simpática produção estar passando em uma sala no cais do porto fui obrigado a me meter em um shopping e acabei entrando em um filme chamado "A Feiticeira". Achei que fosse o filme baseado na antiga série de TV "Jeannie é uma Burra". Ledo engano. Confundi tudo. "A Feiticeira" é a história da bruxa que quer viver entre gente normal. Disso eu entendo muito bem pois a minha sogra, aquela fudida, se entocou lá em casa há anos e tenta fazer a mesma coisa. Filha e neta da puta! Fiquei meio desanimado... Gostava mais da Jeannie porque ela era uma loira gostosa que ficava pulando de um lado para o outro com sua barriguinha de fora, falando merda pra caralho e vivia pedindo para o Major Nelson dar ordens para ela o tempo todo e ainda morava tipo num quarto de empregada que era dentro de uma garrafa! Muito legal!!! Como não poderia amar esse seriado? Mas não, resolveram fazer o filme da "Feiticeira", a bruxa dona de casa comportada que dormia de pijama de manga comprida... depois perdem dinheiro e ainda ficam putos! Nem fudendo que eu ia ver essa merda! Quando vi o engano que cometi saí correndo e entrei em uma outra sala qualquer. O ar condicionado estava no máximo lá então resolvi esfriar minhas bolas ali mesmo. Uma beleza, rapaz! O filme que estava sendo exibido se chamava "Cinderella Man". Achei que seria a história de uma menina inocente que depois da meia-noite vira um travesti ou alguma coisa saudável do gênero. Só depois notei que esse filme, no Brasil, ganhou o "excelente" título de "Luta Pela Esperança". Que piegas! Mas qual foi minha surpresa ao ver que essa produção é cheia de cenas e mais cenas de BOXE! Sim, boxe, moçada! A "nobre arte", o pugilato puro, o socão na cara, tipo o que ocorre lá em casa toda quarta-feira quando eu levo Shambala, o chimpanzé baby-sitter, para tomar conta dos meus filhos, aqueles sacaninhas! Ah, eles adoram! E Shambala muito mais! Abri minha braguilha mais ainda e esfreguei as mãos! Aprecio o boxe e sendo eu um senhor de certa idade, já tinha lido a respeito da história verídica de James Bradock, boxeador de origem irlandesa, que come o pão que o diabo amassou na época da Grande Depressão norte-americana na década de 30. "Comer" é força de expressão pois ele e sua família, na verdade, não rangaram quase nada nesses anos de vacas muito magras. E se ainda rolarem umas garotinhas loiras vestidas de Cinderela lutando num ringue cheio de lama, melhor ainda!!!

Vi que quem estrela a fita é o famoso Russel Crowe, fazendo o papel de um boxeador duro na queda, mas de coração mole. Quem vê televisão ou lê os jornais sabe que, na verdade, ele um hooligan nato e que recentemente foi preso por, ora vejam só, tacar o telefone NA CARA de um funcionário do hotel no qual estava hospedado! De bom moço, não tem absolutamente nada, mas não passando de um ator mezzo-esforçado, mezzo-busto de mármore, até que convence no papel (nada exigente) de herói de um povo sofrido vestindo luvas e calção.

"Oba!", pensei com os botões já abertos de minha samba-canção depois de tirar a calça toda. Ele vai descer o cacete nos adversários, no juiz, na mulher, nos filhos, no cameraman e em si mesmo!!! Vamos lá, Gladiador! Pau neles!!! Nada disso. Antes de tirar a minha sambinha e ficar só de paletó e sapato na sala de cinema, vi que em "Luta Pela Esperança", Crowe, na verdade, encarna o espírito do povo norte-americano em sua dura luta na época da Grande Depressão. Você sabe o que foi a Grande Depressão? Não? Bom, vou facilitar as coisas pra você, seu estúpido: devido à quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929, uma crise econômica sem precedentes assolou os EUA. Assim, após um começo promissor como lutador, Braddock quebra a mão e também vai à bancarrota como todo mundo, até conseguir uma segunda chance. Você viu Seabiscuit ou "Alma de Herói" (eu preferiria "Marbiscoito"... muito melhor!), aquele filme do cavalo que carrega o homem-aranha nas costas? Bem, basicamente, é o mesmo cenário. Os EUA estavam falidos, levando milhões de cidadãos a ficarem na pior. O pangaré Seabiscuit simbolizava a esperança de um povo lascado, mas que por seu "espírito puro e valor nato", supera as adversidades. A mesma coisa vale para Jim Braddock. Tenha fé, pois você é um "americano na terra prometida" (e isso, para eles, faz a MAIOR diferença, acredite), agüente firme as porradas da vida que as coisas vão melhorar, meu rapaz. Nesse contexto, ele ganha o apelido de "O Homem Cinderela", o que, convenhamos não é a melhor das alcunhas para um cara que, todo mês, tem que enfrentar um outro querendo descer o cacete nele. Um nome desses é um puta incentivo psicoIógioco! "Oba, hoje vou lutar contra uma mulherzinha de vestido!" Imaginemos se a moda tivesse pegado :"E nesse canto, pesando 120 quilos, 130 lutas, 140 nocautes, o campeão dos estivadores do Alaska... Gata Borralheiraaaaaa!!!" "Não perca hoje sensacional decisão dos pesos -pesados: Chapeuzinho Vermelho contra Branca de Neve!" Não dá! É ridículo!

O filme não é simplesmente a biografia de James Braddock, mas tem seu foco na superação de uma época dura onde a falência da economia e o conseqüente desemprego arrasaram vidas e mais vidas. Tanto que, volta e meia, em "Luta Pela Esperança" é lembrado o fato de Braddock nunca ter sido nocauteado em sua carreira como lutador. Simbólico, não? Agora, olha só, se você também não viu Seabiscuit, não posso fazer nada, seu alienado sem vergonha...

"Luta Pela Esperança" tem seus méritos. O diretor Ron Howard é um especialista em películas comerciais e bem feitas tecnicamente. Ex-ator, trabalhou na clássica série de televisão "Happy Days". Não conhece também? Porra, mas tu é burro, hein? Já viu um o clipe do Weezer da música "Buddy Holy"? Pois é, é uma homenagem a essa série. Howard já dirigiu filmes como "Cocoon", "Apolo 13" e "Uma Mente Brilhante", este último com o mesmo Crowe-Magnon dando uma de matemático... patético... o filme tem a texana quase européia Renée Zellweger (mãe suíça, pai norueguês) em um papel aquém de suas possibilidades dramáticas, Paul Giamatti, que tende a fazer sempre o papel de... Paul Giamatti (!!!), uma tradicional fotografia em tons pastéis para remontar a uma época passada, alguns arroubos melodramáticos dispensáveis e, acima de tudo, um roteiro relativamente bem amarrado que tenta não delatar de modo prematuro o final. Agora, o que realmente impressiona são as coreografias de boxe... as lutas e a edição dessas seqüências são impecáveis fazendo que "Luta Pela Esperança" seja um filme inovador no aspecto de realismo do esporte. Veja toda a série "Rock, o Lutador" e irá perceber a diferença. É o mesmo que comparar o "Furacão 2000" com o balé Bolshoi. Quando o sr. Crowe solta a munheca na lata de um coitado qualquer há velocidade e impacto, coisas que nunca tinha visto tão bem feitas em outras produções que contenham a já mencionada "nobre arte" (que de "nobre" e de "arte" não tem nada... ). É tão perfeito que acho até que o Russel Crowe bateu de verdade nos colegas! E nem precisou de telefone nem nada!!!

Cheguei ao final de "Cinderella Man" / "Luta Pela Esperança" bastante satisfeito com o que vi, mas com a bunda gelada e com o chato do lanterninha me expulsando do cinema e dizendo que ia chamar a polícia, etc. Eles passam um filme com um título malicioso e dúbio como esse e eu é que tenho que ir pra cadeia... francamente!
Adolar Gangorra, 92 anos, é editor do site www.adolargangorra.com.br e, quando jovem, costumava ir ao teatro, mas depois que inventaram o cinema parou com essa merda.

2 comentários:

Plebe Rude e Ignara disse...

Caro senhor Adolar
E´com muito prazer que lhe escrevo estas mal-traçadas linhas(no português de antão). tive o prazer de conhecer seu texto por intermédio da pungente(e creio que não autorizada)publicação via este site:http://whiplash.net/materias/humor/000128-legiaourbana.html
Emocionei-me muito com suas deliciosas e enebriantes opiniões a cerca desta canção.
Após me recompor de tão deliciosa elucubração. decidi me a pedir lhe que me conceda se possível o direito de republicar este texto com seu devido credito e link para este seu sitio. sem mais e no aguardo de vossa resposta.
Eu Plebe rude e ignara me despeço

Davinte Digital

www.davintedigital.blogspot.com

email: plebemail@gmail.com

Plebe Rude e Ignara disse...

Ps: o texto a que me refiro é o sobre Eduardo e Mônica...

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