sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

MEU FILHO MACONHEIRO

        Nunca pensei que isto aconteceria na minha família. Foi um choque! Achei a tal da maconha no quarto do meu filho Tiago. Fiquei assustadíssima! Lá estava ela jogada no chão, desafiadora, olhando para mim. Reconheci-a imediatamente, pois já a tinha visto no "Cidade Alerta". A famosa maconha, aquele pó branco, perfumado e com aspecto familiar. Basta aspirar uma vez e pronto! Você estará viciado para sempre!

         Olhei melhor e percebi que Tiaguinho a escondia num frasco de talco. Gelei na hora. Meu Deus! Ele também estaria traficando a tal da maconha? Agora tudo fazia sentido. Lembro-me do dia em que vi, pela fresta da porta do quarto, Tiago sacudir seu tênis antes de sair. Era lá que ele escondia a droga para vender nas ruas. Nervosa, comecei a procurar a maconha nos seus outros pares de tênis. Cheirei um por um para ver se encontrava algum resto ali. Acordei do desmaio ao lado da poça de vômito. A maconha, quando estocada, fica um cheiro desgraçado de feto de urubu molhado! Aquilo não estava acontecendo!!! Quem diria... logo o meu Tiago, um garoto exemplar de 13 anos, excelente aluno, tinha se tornado um viciado mercador da morte!

         Após me acalmar um pouco, decidi enfrentar o problema. Certa feita, vi no programa da Hebe um psicólogo falando que os pais deveriam conhecer os efeitos da droga para poderem identificar um possível usuário na família. O que fiz então? Resolvi eu mesma fumar a famosa erva do diabo! Peguei um cachimbo velho do meu marido Anselmo, enchi-o com o pozinho da maldita e acendi. Traguei o quanto pude. Tossi muito, engasgando várias vezes. De repente, uma nuvem branca surgiu do nada. Sentia tudo girar! Vários pensamentos esquisitos foram aparecendo na minha mente...

         Agora estava claro que eu odiava cozinhar quiabo para o Anselmo, aquele sacana! Quiabo na panela antiaderente de teflon. Nada gruda numa panela dessas, eles dizem. Pois sim! Se nada gruda nessa panela, como é que eles fizeram para grudar o teflon nela, porra? Eu vou é grudar uma panela de teflon antiaderente na cara do Anselmo, aquele filho de uma puta aderente! Aderente à calcinha, eles dizem! Pois sim! Nunca mais vou usar a merda do O.B.! O.B.? O.B. - Obstrutor de Buceta! Não é mole enfiar aquele troço não, meu chapa! Eu queria ver o Anselmo socar um maço inteiro de quiabo no cu. Quiabo cru! Fala rápido: quiabo cru! Quiabo cru! Quiabro o cu! Abro porra nenhuma, rapaz!

         Que horror! Estava em transe e não tinha notado. Que droga mais poderosa aquela! Eu, mãe, esposa e dona de casa, em apenas 15 minutos havia me tornado uma maconheira profissional. Pronto, estava viciada para sempre! A transviada do 502! Que vergonha, o que os outros iriam dizer? Não, aquele seria o meu segredo. Ninguém poderia ficar sabendo. Devido ao efeito da erva maldita, minha língua ficou branca e com um gosto miserável de talco. Para não dar na vista, resolvi que não abriria a boca, não falaria nada com Tiago. Apenas torceria para que o meu pequeno traficante deixasse cair mais da tal da maconha no seu quarto para que eu pudesse sustentar esse meu vício eternamente...



Adolar Gangorra, 66 anos, é editor do blog Adolar Gangorra e não usa drogas apesar de dirigir um Lada 92 montado na Guatemala.

3 comentários:

Will Vaz disse...

Muito bom o texto! Adorei! Tive quase o mesmo efeito fumando orégano em folha d bíblia.

Anônimo disse...

Rialto com o texto. Parabéns.

Carlos Kurare disse...

Excelente texto! O postarei no meu blog, com a sua permissão é claro!

Grande abraço!

"Eu bebo até café frio! Desde que a companhia seja quente!" (Carlos Kurare)

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