Na década de 80 um fenômeno musico-social chegou ao Brasil: o Movimento
Dark, também chamado de Gótico. Era uma parada estranha com vagabundo se
vestindo de preto, meio bichas e deprimidos, e que curtiam bandas obscuras e
escuras como The Cure, Joy Division, Bauhaus, etc. Criou-se então um culto a
esses artistas estrangeiros pois, supostamente, não havia nenhum no mesmo nível
em desgraceira, tristeza e melancolia aqui. Bem, na verdade, havia sim...
Se você é um dark safado, que usa roupinhas black mesmo que viva em
Teresina, que organiza festinhas em cemitérios e outros tipos de cretinices,
por que ficar correndo atrás do Marilyn Manson e da gorda do Evanescence, se o
maior artista gótico de todos os tempos está aqui mesmo, bem pertinho de você?
Sim, putada, o maior músico DARK que já existiu se chama Chico Buarque!
Éééééééé, malandro! Ah, não acredita? É só prestar atenção nas letras e músicas
do cara! É SÓ DES-GRA-ÇA, DO COMEÇO AO FIM! Você vai adorar, bicho, digo,
bicha!
O foda é que, no Brasil, quando se elege alguém como referência, o cara
vira deus! Não se pode falar nada além de “É UM GÊNIO!”. Senão, vai ser
linchado (nunca vi um país ter tantos cérebros superiores, sem nunca ter ganho
um Nobel...).
E a pressão social buarqueana continua. Se você é mulher e tem entre 16
e 60 anos tem que AMAR o cara e achar ele LINDO, no mínimo! Ok, o tal Francisco
é bonito mesmo, não há como negar. Tem aqueles olhos verdes, umas olheiras de
pinguço, aquela pele morena de vagabundo de praia. Rola um charme de menino
pidão com fome que as mulheres adoram, mas não sabem explicar porque (se ele
não fosse famoso, a maioria ia achar que ele é apenas mais um bebum na rua). E
ainda, o PIOR argumento de todos: "Ele é sensível!" Mas que bosta...
A idolatria é tanta que milhões de pessoas que nunca viram ao vivo o sr.
Buarque chamam ele de "Chico". Haja intimidade...
É ÓBVIO que o senhor Francisco Buarque de Hollanda é um artista excepcional
mesmo. Um letrista brilhante com muito mais cartas nas mangas que qualquer
outro. Escreve canções originais com uma riqueza narrativa e uma poética (foi
mal) de alto grau de sofisticação de estilo e capacidade de narrativa incomum.
Mas que o cara é deprezaço, isso é.
Ah, você não acha ele tão pra baixo assim?? Vai ler as letras do fineza,
então. Saca só, logo em 1965, ele escreveu uma música chamada “Tereza Tristeza”!
Quer dizer, desde novinho, o garotão já curtia uma depressão legal, uma
melancolia, uma morbidez, um banzo, um abatimento, um desânimo, um
esmorecimento, uma humilhação, um derrotismo, um desconforto, um desespero
(peraí que eu vou me atirar da janela e já volto).
No seu primeiro sucesso, “A Banda”, Chicão, a Alegria da Festa, já mostrou a
que veio:
"Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
(...)
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor"
É aquela historinha novelística que o povão se amarra! Brasileiro gosta de um
dramalhão mesmo, não tem jeito...
As melodias do cara são todas pra baixo. Ele abusa dos acordes menores. Ouça
“Cálice” num quarto escuro e tente não cagar nas calças de medo! É um clima
pesado do caralho! Uma sessão de tortura medieval parece uma opção bem mais
agradável!
E tem muito mais! O Mestre da Melancolia abre a famosa canção “Roda Viva” com
os seguintes versos:
"Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu"
Então, tá. Que cartão de visitas, hein? Ele quer que todo mundo se sinta
na merda, é isso?
Aí o prego politicamente “consciente” (hahahaha) já corre pra dizer: - “Mas
eraaaa a époocaaa da Ditaduuuura!” Caguei. O sujeito só compõe desgraça até
hoje! Quando ele resolveu escrever um livro pôs o título de “ESTORVO”. Ele
curte uma parada deprê, sim senhor!
Fala então uma música alegre do cara? Claro, você pensou em “Taca Pedra na
Geni” (eu sei que o nome da música não é esse, brother, calma...). Isso é o que
todo fã mediano lembra. Mas a música não é nem um pouco divertida. Tem no
refrão uma incitação de linchamento de uma puta. Que “legal”, hein? Muito
bacana mesmo...
Mas nada pode superar o esfuziante verso abaixo, de “Construção”. Aqui
temos um festival proparoxítono de choro e ranger de dentes engendrado
meticulosamente com um raro esmero sadístico:
"E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego"
“MOR-REU NA CON-TRA-MÃO A-TRA-PA-LHAN-DO O TRÁ-FE-GO!” Mas puta que pariu minha
sogra!!! Só esse verso deixaria Schoppenhauer, Kierkgaard e Nietzsche, os reis
do pessimismo, morrendo de inveja! É um aniquilamento emocional sem igual!
Assim não há cu que aguente, como berrava a Madre Superiora do meu colégio!
Na pérola “alto-astral” "Pedaço de Mim", há estrofes inomináveis, com
tantas desgraças e tragédias por linha, que é praticamente um convite ao
suicídio. Não vou nem listar esse réquiem angustiante e arrasador aqui pra não
deixar neguinho sem dormir...
Já em “Mulheres de Atenas”, a melodia “esfuziante e pra cima” é o grande
destaque. E ainda ganhamos de brinde essas linhas superpositivas aí:
"As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas, serenas"
“Vestem-se de negro”. (Não disse, darkalhada?) Esse é o verdadeiro ídolo de
vocês!!!
Em “Olê, Olá”, ouve-se a pedrada "Não chore AINDA não, que eu tenho um
violão." Fica claro que Chico Buarque sabe muito bem que a pessoa vai se
debulhar de desespero no final da música. E o Corvo Carioca ainda manda umas
paradas tipo “Que a dor é tão velha que pode morrer”.
Em “Gota D’água”, temos dois versos cheio de auto -piedade do letrista
chorão:
"Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa"
Hummm, mas que menina-moça magoadinha, hein? E há outro pior em “Bastidores”:
"Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim
E me tranquei no camarim"
Parece uma adolescente! Bom, como todo dark, tudo indica que o Seu Buarque seja
meio baitola mesmo, como fica bem claro na letra “Doze Anos”:
"Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
(...)
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca"
Saudades de fazer TROCA-TROCA? Como assim? Ele não é o galãzão da mulherada?
Olha, que esse Buarque é "buraco", minha filha! Em tempo: Assassino
de aves inocentes do caralho...
Em “Meu Guri”, Mr. Sofrimento brinca sarcasticamente com a tragédia de
uma mãe incauta que acha que o filho marginal é um trabalhador honesto. Mas,
claro, a música tem que acabar da PIOR forma possível, ou seja, com a pobre
senhora recebendo a “agradável” notícia que seu filhinho foi, ora vejam só...
chacinado!
Em “Apesar de Você”, De Hollanda escreveu um verso bastante sintomático e
revelador que sintomático em sua lúgubre obra:
"Este samba no escuro" (Viram, Darks?)
Deixa eu explicar uma coisa, moçada: samba é, por natureza, uma música alegre e
alto astral. Se você vê hoje em dia os pregos dos Los Hermanos fazerem umas
musiquinhas pra baixo, blasés, falando de poesia, lirismo, circo e outras
merdas saiba que quem começou esse lance de compor sambinha deprimente foi o
Seu Buraco! Quem vocês acham que o tal do “Marcelo Campelo” e o “Almirante”
ouviam na PUC? O Dicró?
Em “O Que Será?, mesmo em uma sequência perfeita de verbos da 1ª conjugação, o
cara não consegue passar sem meter uma estrofe lúgubre, apavorante e miserável:
"Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos"
“Mutilados, infelizes, meretrizes e desvalidos”. O que mais podemos
dizer? O cara faz o Edgar Alan Poe parecer o Patati Patatá!
Então, amiga Gótico, pare de perder tempo baixando The Mission e Sister
of Mercy e vá atrás dos discos de vinil velhos e empoeirados do Chico BuDark daquela
sua tia PTista pau no cu. Você vai ver o que é ficar arrasado e deprimido de
verdade!
Adolar Gangorra,
tem 72 anos, é editor da página Adolar Gangorra no Facebook, e tem uma namorada
mau humorada que vive de Chico...