segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O PERIGO DAS CANTIGAS DE RODA!


O PERIGO DAS CANTIGAS DE RODA!

Os pais de hoje em dia vivem reclamando da violência a que seus filhos são expostos na mídia. E com toneladas de razão. Há uma série de abominações inomináveis em videogames, programas de TV, internet, filmes, paredes de banheiros públicos e na constituição brasileira (sendo as últimas duas a mesma coisa).

        Esses mesmos genitores sonham que seus filhos larguem aquele joguinho eletrônico sanguinolento para brincarem livres nas ruas. Entretanto, não se lembram que lá suas crianças irão entrar em contato com a ameaça mais perversa de todas. Um tipo de violência maior e mais escabrosa que está presente nas famosas e aparentemente inocentes cantigas de roda. Sim, amigos! Há gerações essas cançõezinhas contaminam nossos filhos com mensagens explícitas de uma violência medieval. A letras incutem na garotada crueldade, tragédias, bullying, desilusão, tristeza, comprazimento da desgraça alheia, etc. Também violência física e emocional e, basicamente, só contam histórias de tragédias sem sentido e sem nenhuma sensibilidade. E os pais ainda acham tudo lindo e saudável. Que equívoco mais miserável esse...

        Tudo isso acompanhado geralmente de coreografias circulares, a famosa brincadeira inútil de ficar girando sem parar, o que, convenhamos, não passa de uma idiotice sem tamanho. As crianças (ou adultos debiloides...) dão as mãos e cantam essas melodias simples, tonais, com âmbito geralmente de uma oitava, sem modulações e tão arrastadas e deprimentes que fazem a Marcha Fúnebre parecer um hit do Black Eyed Peas.

         O fato é que essas músicas, infelizmente, fazem parte do folclore brasileiro. De origem europeia, incorporaram elementos indígenas e africanos, além das brutais culturas portuguesa e espanhola. Assim sendo, não poderiam dar em outra coisa, senão em merda da grossa, né?

        Entre as cantigas mais conhecidas, estão títulos constrangedores e bizarros, como “Escravos de Jó”, “O Cravo e a Rosa”, “Ciranda, Cirandinha” e “Atirei o Pau no Gato”.

        Comecemos pela mais famosa e infame de todas...

ATIREI O PAU NO GATO

Atirei o pau no gato, tô
Mas o gato, tô
Não morreu, reu, reu

Dona Chica, cá
‘Dmirou-se, se
Do berrô, do berrô
Que o gato deu
Miau!

        Sem dúvida, “Atirei” não passa de um clássico de brutalidade extrema e selvageria para com os animais.

       Já começa muito mal, com a confissão de uma tentativa de assassinato. O criminoso revela friamente a maldade que fez - tacou um pedação de pau na cara de um inocente gatinho de rua! Em primeira pessoa, o selvagem descreve tranquilamente o ato vil que cometeu: Atirei o pau no gato, tô. Puta que pariu! Que covardia do cacete! Isso é uma cantilena inocente ou o relato de uma tentativa de gaticídio com requintes de crueldade? Isso, por acaso, é conteúdo para brincadeira de criança?

        Temos nessa letra imunda a prova cabal que a ação descrita pode ser enquadrada em crime doloso. Ou seja, com a intenção premeditada de matar: Atirei o pau no gato, tô / MAS o gato não morreu. Aí, a satânica e maliciosa conjunção MAS revela o intuito macabro de assassinar o bichano, lamentando insensivelmente o fracasso da empreitada.

        O coitado do gato levou uma traulitada no meio da fuça e saiu moribundo, se arrastando por um beco sujo e cagando sangue. O bicho sofreu uma volumosa hemorragia interna e vagabundo acha isso uma coisa legal pras criancinhas cantarem alegres no meio da rua? Que exemplo mais desprezível para nossa juventude...

        E que porra a tal Dona Francisca, aí claramente cúmplice da tentativa de gatassinato, ainda se admira do BERRO que o felino soltou. Dona Chica, cá / ‘Dmirou-se, se / Do berrô, do berrô / Que o gato deu / Miaauuu!. Na verdade, a Dona Francisca é uma ignorante inconseqüente do caralho, pois se mostra surpresa com o urro de dor do coitado do felídeo. Ela acha o quê? Que o bicho leva uma ripada no meio do beiço e ainda tem que dizer baixinho: “Muito obrigado por vocês, criancinhas traquinas e levadas da breca, terem tentado me trucidar. Não doeu nada, sabiam?”. Dona Francisca, sua sacana insensível.

         Notem que não foi uma miadinha leve ou um gritinho de susto, não. Foi muito pior. Foi um BERRO! Na boa, velho, nunca vi gato berrar. Gato mia, pô! Quem berra é gente sendo torturada e o meu tio bêbado na ceia de Natal. Isso só revela a contundência da porretada quase mortal que o miau levou. Pelo grito, devem ter atirado uma trave de futebol nas costelas do bichano, que dobrou feito um canivete de
pelo. O pobre felino é simplesmente um sobrevivente heroico de uma tentativa de execução por motivos fúteis. Com essa paulada covarde gastou tranquilamente seis das sete vidas que ele tem.

        E, não obstante, para fazer galhofaria barata com o ato de selvageria com o pobre animal, temos um “eco” cretino nas últimas sílabas de cada estrofe: ô, ô, / eu, eu / se, se. E ainda puseram um "MIAU" muito escroto no final, caricaturando e fazendo uma graçola com o bramido lancinante do gatinho. Cacete, é muita sacanagem com o bicho...

       Mesmo sendo uma escabrosidade inaceitável, essa canção acabou ganhando recentemente uma versão politicamente correta germinada por algum imbecil caga-regra com o título “NÃO ATIRE o Pau no Gato”:
Não atire o pau no gato (tô) / Porque isso (ssô) / Não se faz (faz, faz) / O gatinho (nhô) / É nosso amigo (go) / Não devemos maltratar os animais / Miau!
        Convenhamos, essa nova a-versão é de uma estupidez e uma histeria muito maior do que a agressivíssima letra original...


CIRANDA, CIRANDINHA

Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar

O anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou

Por isso Dona Rosa
Entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito
Diga adeus e vá se embora


        Muito confuso para as crianças. Primeiro, a música manda dar MEIA volta. Depois ordena o contrário? ZERO em didática, hein? Por que MEIA volta e não uma volta inteira? É claro que eu e você (espero...) entendemos que esse termo é uma expressão de linguagem, mas ninguém de cinco anos sabe isso!

        Também ninguém explica o que seja “cirandar”. Mas que “legal”, não? Os pequeninos não têm a menor obrigação de saber o que quer dizer “ciranda”, que, na verdade, é um substantivo feminino que designa uma cantiga de roda infantil, provavelmente de origem portuguesa. O termo ciranda aplica-se também à dança de roda para adultos (retardados), muito popular no Nordeste brasileiro. Ou ainda pode significar aquele que vem de Cirene, na África antiga, ou até mesmo o termo "peneira", também conhecido como "joeira", que é um plano inclinado de madeira com fundo de ralo para limpar areia e cal do cascalho que traz junto. Ufa! Tenho eu que fazer aqui o que esses vagabundos se omitiram de explicitar ao criarem essa letra fere
incognoscível e mal-ajambrada do cacete.

        Depois temos: O anel que tu me deste / Era vidro e se quebrou / O amor que tu me tinhas / Era pouco e se acabou. Essa canção insensível incute nos infantes a tristeza e a desilusão amorosa exclusiva da vida dos ADULTOS... O amor que tu me tinhas / Era pouco e se acabou. Parece ser um conceito deveras complicado sobre um amor finito para a gurizada ficar repetindo lobotomicamente no meio da rua, não? Mais inadequado para os pequenos, impossível. É muita desilusão e mágoa para os inocentes petizes terem que lidar... Na boa, essas cantigas deveriam ter classificação indicativa também.

        “Anel de VIDRO”??? Essa cantiguinha bisonha ensina tudo errado! Pô, qualquer idiota sabe que anel é de metal. MAS É LÓGICO que a porra de uma argola de vidro vai quebrar. E ainda fazem um dramalhão do caralho por causa de um objeto que foi feito burramente para se esmigalhar. Francamente... letra mais cretina do cacete...


CAI, CAI, BALÃO

Cai, cai balão, cai, cai, balão
Aqui na minha mão
Não vou lá, não vou lá, não vou lá
Tenho medo de apanhar!

Cai, cai, balão, cai, cai, balão
Na rua do sabão
Não cai não, não cai não, não cai não
Cai aqui na minha mão!


        Outra historieta reles e desgraçada. Começa com um pedido, no mínimo estúpido, pra um balão cair na mão da própria pessoa. Como todo mundo sabe (menos o intelectualmente desafiado que escreveu esses versos absurdos...), balões, em geral, carregam FOGO em seu bojo. Mesmo assim, o demente quer que ele caia na MÃO dele! Idiota do cacete. Fazer o quê? Tem energúmeno pra tudo nesse mundo. Essa canção escabrosa estimula o criminoso uso de balões entre os pueris. O próprio título já é um pedido para que uma tragédia aconteça.

         Depois temos: Não vou lá, não vou lá, não vou lá / Tenho medo de apanhar! Lá A-ON-DE? Na boa, esse é um dos versos mais doentes que existem... apanhar de quem, PORRA? Não faz sentido. Mais uma canção irresponsável que insere a fobia irracional desde cedo no universo psicológico infantil. Essa cantilena deplorável é a trilha sonora perfeita para a Síndrome do Pânico.

        E, por último, convenhamos: “Rua do SABÃO” é um nome muito do escroto. Deve ser um lugar horroroso que faz a Vila do Chavez parecer alto astral...


PAI FRANCISCO

Pai Francisco entrou na roda
Tocando o seu violão
Bi-rim-bim-bão, bão, bão, bi-rim-bim-bão, bão, bão!

Vem de lá Seu Delegado
E Pai Francisco foi pra prisão.
Como ele vem todo requebrado
Parece um boneco desengonçado


          De longe, a cantiga mais deprimente e miserável de todas. É também um primor de abuso de autoridade, injustiça social, ignorância e também de “bi-rim-bim-bão, bão, bão” (ah, você achou que eu soubesse o que essa porra significa, né? Pois é... nem eu, nem ninguém, malandro...)

         Primeiro: quem é PAI Francisco? É um Pai de Santo? É um pai solteiro? Ele, por acaso, é o pai do autor da letra? Então, por que “PAI”? Que merda é essa? A música não explica absolutamente nada. Sabe-se somente que havia uma roda de vagabundos no meio da rua e que o Chiquinho quis entrar nela de idiota, pra tocar sua violinha fudida. Tava
a fim apenas se entrosar, fazer amigos, ser gente fina, talvez fumar um tchoize com os maloqueiros do lugar. Porém uma arbitrariedade horrorosa acontece: Vem de lá Seu Delegado / E Pai Francisco foi pra prisão. Que exemplo mais ameaçador e deprimente esse... Do nada, aparece um delegado ignorante que leva em cana o cara. O único crime que o pai parece ter cometido foi o de tocar mal seu violãozinho. É que para fazer “BI-RIM-BIM BÃO, BÃO, BÃO, BI-RIM-BIM BÃO, BÃO, BÃO”, o sujeito tem mesmo que ser um acéfalo sem talento. Ok, isso não é motivo para ele ir parar na cadeia, certo? Bom, talvez seja sim...

         E após perder sua liberdade por um motivo fútil, o tal Genitor Francisco é sacaneado selvagemente pelos
fdps que ficaram assistindo alegremente ao seu sofrimento: Como ele vem todo requebrado / Parece um boneco desengonçado. Coitado do Pai... se fudeu de verde e amarelo. “Parece um boneco desengonçado”... Nossa, é muita truculência para se apresentar aos pirralhos. Com cantigas absurdas como essa, criaremos uma legião de autômatos reptilianos no futuro.


A CANOA VIROU

A canoa virou
Pois deixaram ela virar
Foi por causa de Maria
Que não soube remar

Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Eu tirava Maria
Do fundo do mar

Siri pra cá,
Siri pra lá
Maria é bela
E quer casar


         Mais uma catástrofe funesta disfarçada de cantilena inocente. Tragédia, fofoca, delação e, provavelmente, injúria. Começa com um naufrágio com vítima fatal. Percebe-se logo o infortúnio ocorrido, pois a Maria se lascou toda. Morreu afogada e ainda foi acusada de causar o acidente náutico. Ou seja, a letra alardeia um desastre e, logo depois, uma acusação grave sobre a autoria da merda feita post mortem, sem direito à defesa. Na boa, isso não é coisa pra criança...

         Em seguida, temos mais uma cretinice imbecilizante nonsense: Se eu fosse um peixinho / E soubesse nadar / Eu tirava Maria / Do fundo do mar. MAS É ÓBVIO que todo peixe sabe nadar! Como assim “Se eu fosse um peixinho / E SOUBESSE NADAR” ??? E emenda: Eu tirava Maria / Do fundo do mar. Tirava porra nenhuma, porque tu acabou de admitir que tu é um peixe inútil que não sabe nem nadar. Tá falando merda, isso sim!

         Para finalizar, temos um despautério inaceitável sem absolutamente NENHUM sentido narrativo. No começo, afirma-se tragicamente que Maria morreu afogada: Siri pra cá, Siri pra lá / Maria é bela / E quer casar. Nã, nã, nã! Maria não quer casar mais não, moçada. Ela virou comida de peixe e quer, no máximo, ser enterrada decentemente. De bela, agora, não tem mais nada. E o que quiseram dizer com “Siri pra lá, siri pra cá”? A letra apresenta um detalhe escatológico de mau gosto supino. Como se sabe, siris são crustáceos necrófagos. Então, fica claro que eles devoraram freneticamente o cadáver de Maria, no “fundo do mar”, de “cá pra lá, de lá pra cá”. Sério, que asqueroso... Menino nenhum deveria ter contato com uma nojeira como essa...


O CRAVO E A ROSA

O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada

O cravo ficou doente
E a rosa foi visitar
O cravo teve um desmaio
E a rosa pôs-se a chorar

A rosa fez serenata
O cravo foi espiar
E as flores fizeram festa
Porque eles vão se casar


        Essa é uma das mais revoltantes cantigas de roda já escritas! Conflito, violência e doença. É basicamente o lead de uma manchete desses
tabloides sanguinolentos que vemos nas bancas de jornais. Vamos lá: quem? O cravo. O que ele fez? Brigou com a rosa. Onde? Debaixo de uma sacada. Como aconteceu? O cravo saiu ferido / E a rosa, despedaçada. DES-PE-DA-ÇA-DA!!! Isso é coisa que criança tenha que ficar gritando no meio da rua? É muita violência doméstica. O cara trucidou a própria companheira, malandro! É o novo Crime da Mala do mundo das flores.

         Após essa série de tribulações hemorrágicas, temos mais um rol de calamidades que fariam qualquer autor de novela mexicana morrer deprimido: O cravo ficou doente / E a rosa foi visitar (sic). O certo seria “visitá-LO”. Erro grosseiro de Português apresentado para os infantis. Que vergonha... Depois, segue-se O cravo teve um desmaio / E a rosa pôs-se a chorar. Peraí: o marginal do cravo quase matou a coitada da rosa de porrada e depois DESMAIOU??? Como assim? Só pode ser bicha, então.

 
SAMBA LELÊ

Samba Lelê tá doente
Está com a cabeça quebrada
Samba Lelê precisava
De umas dezoito lambadas

Samba, samba, samba, ô Lelê
Pisa na barra da saia ô lá, lá
Pisa na barra da saia ô lá, lá
Ó morena bonita


        Outra narrativa macabra que relata a fria tentativa de assassinato de uma enferma indefesa, da forma mais cruel, pusilânime e covarde possível. Vejamos: quem é “Samba Lelê”? E que nome escroto é esse, “LE-LÊ”?
A primeira estrofe dessa canção odiosa já nos comunica uma miséria: que a tal Lelê está doente. Muito “adequado” para os pequeninos, sem dúvida... Em seguida, temos a extensão gore da história: Tá com a cabeça QUEBRADA. Deixem-me explicar uma coisa: Lelezona não tá doente coisa nenhuma. Ela tá na MORRENDO, isso sim! Essa trova imunda só revela a ignorância do populacho brasileiro. Cabeça quebrada = doença! Ah, tá ok então...

          Aí, algum “gênio” ainda sugere: Samba Lelê precisava / De umas dezoito lambadas. Que sádico abjeto! Depois de constatarem que a muchacha tá agonizando com o crânio rachado, algum marginal vota animadamente para chicotearem o pobre coitada. Isso é maldade pura, minha gente! No ápice da barbárie, aconselham aplicar 18 LAMBADAS na fudida. QUÊ QUE É ISSO? Querem açoitar um quase cadáver indefeso? Que nojento... E por que 18 e não 15 ou 20? Esse é o número mágico das chicotadas? Era a quantidade que fazia a Escrava Isaura ficar quietinha? Caralho, é pra arrasar a cabeça das criancinhas mesmo...

         Por fim, temos uma continuação ridícula e sem sentido: Samba, samba, samba ô Lelê / Pisa na barra da saia, ô lá, lá / Pisa na barra da saia ô lá, lá / Ó morena bonita. “Ó morena bonita”... What the fuck???


ESCRAVOS DE JÓ

Escravos de Jó
Jogavam caxangá
Tira, bota
Deixa o Zé Pereira ficar

Guerreiros com guerreiros
Fazem zigue, zigue, zá
Guerreiros com guerreiros
Fazem zigue, zigue, zá

        Mais uma musiquinha bisonha, detestável e, acima de tudo, confusa.
        Numa rápida pesquisa sobre o obscuro termo “caxangá”, temos:

1 - Um determinado chapéu militar.

2 - Um
tipo de crustáceo.

3 - Bairro da cidade do Recife, Pernambuco.

4 - Nome da maior avenida em linha reta do Brasil.

5 - Nome de uma fazenda localizada na cidade de Ouro Branco, no Rio Grande do Norte (estado que fica no NORDESTE...), mais conhecida pelo ridículo termo de Sítio Jerimum.

6 - Um
nome escroto apenas.

         Por último: quem é ZÉ PEREIRA e ele quer ficar ONDE, velho? Ah, quer saber? Deixa pra lá...

         Infelizmente, temos muitas outras cantigas de roda famosas como "Fui no Tororó", "Marré de Si", “Sapo Cururu”, "Marcha Soldado”, que não passam de um corolário torpe e desditoso de descalabros sem sentido. Todas desfilam aberrações sociais e psicológicas e foram projetadas para meninos e meninas ficarem repetindo-as que nem um papagaio cocainômano. A verdade é que essas cantilenas deprimentes e violentas voltaram recentemente à moda porque se achou que era um “resgate da cultura brasileira”, essas merdas. Supostamente elas serviriam como um antídoto para os “perigos da modernidade”... Hahahaha, mais equivocado do que isso só o Felipão e seu 7 a 1. O perigo presente nessas toadas execráveis é muito maior do que qualquer internet da vida.

        Caros pais
pseudoconscientes: deixem seus filhos jogarem Call of Duty, GTA e Mortal Kombat nº 740 e assistirem a séries violentas como Dexter e The Walking Dead ou a bosta do Faustão (pensando bem... Faustão, não deixem não... é demais!). Garanto que eles sofrerão menos ameaças a suas psiques ainda em formação do que se ficarem na rua berrando - e internalizando - essas ladainhas aparentemente inocentes, que pregam atirar pedaços de paus em gatinhos. A não ser que seja pra fazer um churrasquinho delicioso ou um tamborim de primeira linha, é óbvio.


 Adolar Gangorra tem 78 anos, é editor do log http://adolargangorra.blogspot.com/, e quando criança ouviu falar nos nomes de brincadeiras de rua como “Queimada”, “Carniça”, “Polícia e Ladrão” e rapidamente preferiu ficar em casa e aprender a jogar xadrez.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

MÔNICA E EDUARDO

O falecido Renato Russo era, sem dúvida, um ótimo músico e um excelente letrista. Escreveu verdadeiras obras de arte cheias de originalidade e sentimento. Como artista engajado que era, defendia os pontos de vista nos quais acreditava em suas letras. E por isto mesmo, talvez alguns deles excedam a lógica e o bom senso. Como no caso da música "Eduardo e Monica", do álbum "Dois" da Legião Urbana, de 1986, onde a figura masculina (Eduardo) é tratada sempre como alienada e inconsciente enquanto a feminina (Monica) é a portadora de uma sabedoria e um estilo de vida evoluidíssimos.

Analisemos o que diz a letra. Logo na segunda estrofe, o autor insinua que Eduardo seja preguiçoso e indolente (Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar: Ficou deitado e viu que horas eram) ao mesmo tempo em que tenta dar uma imagem forte e charmosa à Monica (enquanto Monica tomava um conhaque, Noutro canto da cidade, Como eles disseram.). Ora, se esta cena tiver se passado de manhã como é provável, Eduardo só estaria fazendo sua obrigação: acordar. Já, Mônica, revelaria-se uma cachaceira profissional, pois virar um conhaque antes do almoço é só para quem conhece muito bem o ofício.

Mais à frente, vemos Russo desenhar injustamente a personalidade de Eduardo de maneira frágil e imatura (Festa estranha, com gente esquisita). Bom, "Festa estranha" significa uma reunião de porra-loucas atrás de qualquer bagulho para poderem fugir da realidade com a desculpa esfarrapada que são contra o sistema. "Gente esquisita" é basicamente, um bando de sujeitinhos que tem o hábito gozado de dar a bunda após cinco minutos de conversa. Também são as garotas mais horrorosas da Via-Láctea. Enfim, esta a tal "festa legal" em que Eduardo estava. O que mais ele podia fazer? Teve que encher a cara para poder suportar aquele pesadelo, como veremos a seguir.

Assim temos: (-Eu não estou legal Não agüento mais birita.) Percebe-se que o jovem Eduardo não está familiarizado com a rotina traiçoeira do álcool. É ainda um garoto puro e inocente, com a mente e o corpo sadios. Bem ao contrário de Mônica, uma notória bêbada sem vergonha do underground.

Adiante, ficamos conhecendo o momento em que os dois protagonistas se encontraram (E a Monica riu e quis saber um pouco mais sobre o boyzinho que tentava impressionar). Vamos por partes: em "E a Monica riu", nota-se uma atitude de pseudo-superioridade desumana de Monica para com Eduardo. Ela ri de um bêbado inexperiente! A diante, é bom esclarecer o que o autor preferiu maquiar. Onde se lê "quis saber um pouco mais" leia-se "quis dar para"! É inaceitável tentar passar uma imagem sofisticada da tal Monica. A verdade é que ela se sentiu bastante atraída pelo "boyzinho que tentava impressionar"! Há um certo preconceito em se referir ao singelo Eduardo como "boyzinho". Não é verdade. Caso fosse realmente um playboy, ele não teria ido se encontrar com Monica de bicicleta, como consta na quarta estrofe (Se encontraram então no parque da cidade. A Monica de moto e o Eduardo de camelo.) Se alguém aí age como boy, esta seria Monica, que vai ao encontro pilotando uma ameaçadora motocicleta. Como é sabido, aos dezesseis anos (Ela era de Leão e ele tinha dezesseis.) todo boyzinho já costuma roubar o carro do pai, principalmente para impressionar uma maria-gasolina como Monica. E tem mais: se Eduardo fosse mesmo um playboy, teria penetrado com sua galera na tal festa, quebraria tudo e ia encher de porrada o esquisitão mais fraquinho de todos na frente de todo mundo, valeu?

Na ocasião de seu primeiro encontro, vemos Monica impor suas preferências, uma constante durante toda a letra, em oposição a humilde proposta do afável Eduardo (O Eduardo sugeriu uma lanchonete Mas a Monica queria ver o filme do Godard.). Atitude esta, nada democrática para quem se julga uma liberal. Na verdade, Monica é o que convencionou chamar de P.l.M.B.A. (Pseudo lntelectual Metida à Besta Associado, ou seja, intelectuerdas, alternativos e esquisitões vestidos de preto em geral), que acham todo filme americano é ruim e o que é bom mesmo é filme europeu, de preferência francês, preto e branco, arrastado pra caralho, e com bastantes cenas de baitolagem.

Em seguida, Russo utiliza o eufemismo "menina" para se referir suavemente à Monica. (O Eduardo achou estranho e melhor não comentar Mas a menina tinha tinta no cabelo.). Menina? Pudim de cachaça seria mais adequado. À pouco vimos Monica virar um Dreher na goela logo no café da manhã e ele ainda a chama de menina? Além disto, se Monica pinta o cabelo é porque é uma balzaca querendo fisgar um garotão viril ou porque é uma baranga safada impregnada de luxúria.

O autor insiste em retratar Monica como uma gênia sem par (Ela fazia Medicina e falava alemão) e Eduardo como um idiota retardado (E ele ainda nas aulinhas de inglês.). Note a comparação de intelecto entre o casal: ela domina o idioma germânico, sabidamente de difícil aprendizado, já tendo superado o vestibular altamente concorrido para medicina. Ele, miseravelmente, tem que tomar aulas para poder balbuciar "iéis", "nou" e "mai neime is Eduardo"! Incomoda a forma como são usadas as palavras "ainda" e "aulinhas", para refletir idéias de atraso intelectual e coisa sem valor, respectivamente. Coitado do Eduardo, é um jumento mesmo...

Na seqüência, ficamos a par das opções culturais dos dois (Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus, De Van Gogh e dos Mutantes, De Caetano e de Rimbaud). Temos nesta lista um desfile de ícones dos P.l.M.B.A.s, muito usados por quem acha que pertence a uma falsa elite cultural. Por exemplo, é tamanha uma pretensa intimidade com o poeta Manuel de Souza Carneiro Bandeira Filho, que usou-se a expressão "do Bandeira". Francamente, "Bandeira" é aquele juiz que fica apitando impedimento na lateral do campo. A saber: o sujeito mais normal dessa moçada aí, cortou a orelha fora por causa de uma sirigaita qualquer. Já viu o nível, né? Só porra-louca de primeira.

Mais uma vez insinua-se que Eduardo seja um imbecil acéfalo (E o Eduardo gostava de novela) e crianção (e jogava futebol de botão com seu avô.). A bem da verdade, Eduardo é um exemplo. Que adolescente de hoje costuma dar atenção a um idoso? Ele poderia estar jogando videogame com garotos de sua idade ou tentando espiar a empregada tomar banho pelo buraco da fechadura, mas não. Preferia a companhia do avô em um prosaico jogo de botões! É de tocar o coração! E como esse gesto magnânimo foi usado na letra? Foi só para passar a imagem de Eduardo como um paspalho energúmeno. É óbvio, para o autor, o homem não sabe de nada. Mulher, sim, é maturidade pura!

Continuando, temos (Ela falava coisas sobre o Planalto Central, Também magia e meditação.). Falava merda, isto sim! Nesses assuntos esotéricos é onde se escondem os maiores picaretas do mundo. Qualquer chimpanzé lobotomizado pode grunhir qualquer absurdo que ninguém vai contestar. Por que? Porque não se pode provar absolutamente nada. Vale tudo! É o samba do crioulo doido. E quem foi cair nessa conversa mole jogada por Monica? Eduardo, é claro, o bem intencionado de plantão. E ainda temos mais um achincalhe ao garoto (E o Eduardo ainda estava no esquema "escola-cinema-clube-televisão".). O que o sr. Russo queria? Que o esquema fosse "bar da esquina - terreiro de macumba - roda de capoeira - delegacia" ? E qual é o problema de se ir a escola, caralho?

Em seguida, já se nota que Eduardo está dominado pela cultura imposta por Mônica (Eduardo e Monica fizeram natação, fotografia, Teatro e artesanato e foram viajar.). Por ordem: 1) Teatro e artesanato não costumam pagar muito imposto. 2) Teatro e artesanato não são lá as coisas mais úteis do mundo. 3) Natação e fotografia? Porque os dois não foram estudar para o concurso do Banco do Brasil? Vagabundos...

Agora temos os versos mais cretinos de toda a letra (a Monica explicava p\'ro Eduardo Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar:). Mais uma vez, aquela lengalenga esotérica que não leva a lugar nenhum. Vejamos: a Monica trabalha na previsão do tempo? Não. Monica é geóloga? Não. Monica é professora de química? Não. Monica é alguma aviadora? Também não. Então o que diabos uma motoqueira transviada pode ensinar sobre céu, terra, água e mar que uma muriçoca não saiba? Novamente, Eduardo é tratado como um debilóide pueril capaz de comprar alegremente a torre Eiffel, após ser convencido deste grande negócio pelo caô mais furado do mundo. Santa inocência...

Ainda em, (Ele aprendeu a beber,), não precisa ser muito esperto para sacar com quem... é claro, com Monica, a campeã do alambique! Eduardo poderia ter aprendido coisas mais úteis como o código Morse ou as capitais da Europa, mas não. Acharam melhor ensinar para o rapaz como encher a cara de pinga. Muito bem, Monica! Grande contribuição! Depois temos (deixou o cabelo crescer). Pobre Eduardo! Àquela altura, estava crente que deixar crescer o cabelo o diferenciaria dos outros na sociedade. lsso sim é que é ativismo pessoal. Já dá pra ver aí o estrago causado por Monica na cabeça do iludido Eduardo.

Sempre à frente em tudo, Monica se forma quando Eduardo, o eterno micróbio, consegue entrar na universidade (E ela se formou no mesmo mês Em que ele passou no vestibular.). Por esse ritmo, quando Eduardo conseguir o diploma, Monica deverá estar ganhando o seu oitavo prêmio Nobel. Outra prova da parcialidade do autor está em (porque o filhinho do Eduardo \'tá de recuperação.). É interessante notar que é o filho do Eduardo e não de Monica, que ficou de segunda época. Em suma, puxou ao pai e é burro que nem uma porta.

O que realmente impressiona nesta letra é a presença constante de um sexismo estereotipado. O homem é retratado como sendo um simplório alienado que só é salvo de uma vida medíocre e previsível graças a uma mulher naturalmente evoluída e oriunda de uma cultura alternativa redentora. Nesta visão está incutida a idéia absurda de que o feminino é superior e o masculino, inferior. É sabido que em todas culturas e povos existentes, o homem sempre oprimiu a mulher. Porém isso não significa, em hipótese alguma, que estas sejam superiores do que os homens. São apenas diferentes. Se desde o começo dos tempos o sexo feminino fosse o dominador e o masculino o subjugado, vários erros também teriam sido cometidos de uma maneira ou de outra. Por que ? Ora, por que tanto homens, mulheres e colunistas sociais fazem parte da famigerada raça humana. E, como se sabe muito bem, é aí que sempre morou o perigo. Não importa quem seja: Monica ou Eduardo!

Adolar Gangorra tem 71 anos, é editor do periódico humorístico Os Reis da Gambiarra e não perde um show sequer dos "The Fevers" e do "Benito de Paula Cover".

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